domingo, 22 de junho de 2008
Tema Geral: Uma visão sócio-histórica da depressão na Terceira Idade.
Resumo:
A falta de afeto é um caminho que pode levar internos de uma instituição e indivíduos da Terceira Idade à depressão. Por isso, decidiu-se investigar, como tema geral, o caráter da afetividade no contexto de internato, numa visão sócio-histórica.
Portanto, acreditamos que a abordagem sócio-histórica nos remete à construção do afeto do indivíduo a partir da internalização de palavras.
Introdução:
De acordo com Vygotsky (1989, pp.6-7): "A análise em unidades indica o caminho para a solução desses problemas de importância vital [como é o caso, a depressão na Terceira Idade]. Demonstra a existência de um sistema dinâmico de significados em que o afetivo e o intelectual se unem. Mostra que cada idéia contém uma atitude afetiva transmutada com relação ao fragmento de realidade ao qual se refere. Permite-nos ainda seguir a trajetória que vai das necessidades e impulsos de uma pessoa até a direção específica tomada por seus pensamentos, e o caminho inverso, a partir de seus pensamentos até o seu comportamento e a sua atividade".
Objetivo Geral:
Nosso objetivo é abordar a emoção enquanto manifestação humana, articulada ao funcionamento mais amplo do psiquismo e forjada no universo das práticas culturais e das relações sociais, identificando as principais características que levam os idosos a se isolarem e proporcionar melhor relacionamento entre estes e sociedade.
Objetivos Específicos:
- Descobrir o que leva os idosos a se sentirem sós;
- Estabelecer um vínculo bibliográfico com a visão sócio-histórica;
- Proporcionar interação, o bem-viver e a melhor qualidade de vida entre o idoso e a sociedade em que ele está inserido.
Hipótese:
Com o envelhecimento as pessoas da Terceira Idade têm a tendência de se voltarem para si mesmos.
Levantamento de Questionamentos Básicos de Pesquisa:
- A afetividade do idoso se debilita com os anos, levando-o à perda dos vínculos familiares?
- O idoso tem consciência dessa perda de afeto e formação a posteriori da angústia?
- Qual o caminho da solidão à depressão? Luto? Perda do afeto? Perda do vínculo familiar?
- Por que a família o abandona?
- Por que há tanto sofrimento na velhice?
Justificativa:
Este projeto de pesquisa é de suma importância para aqueles que desejarem ter uma melhor qualidade de vida na velhice, com consciência, pois o Brasil, pelas pesquisas, breve se tornará um país onde sua maioria serão de idosos.
Para Vygotsky (Vygotsky, 1984, p.65), "a internalização das atividades socialmente enraizadas e historicamente desenvolvidas constitui o aspecto característico da psicologia humana; é a base do salto qualitativo da psicologia animal para a psicologia humana." Porém, a cultura não é pensada por Vygotsky como um sistema estático ao qual o indivíduo se submete, mas como uma espécie de "palco de negociações" em que seus membros estão em constante processo de recriação e reinterpretação de informações, conceitos e significados. Ao tomar posse do material cultural, o indivíduo o torna seu, passando a utilizá-lo como instrumento pessoal de pensamento e ação no mundo.
Neste sentido, o processo de internalização, que corresponde, como vimos, à própria formação da consciência, é também um processo de constituição da subjetividade a partir de situações de intersubjetividade. A passagem do nível interpsicológico para o nível intrapsicológico envolve, assim, relações interpessoais densas, mediadas simbolicamente, e não trocas mecânicas limitadas a um patamar meramente intelectual. Envolve também a construção de sujeitos absolutamente únicos, com trajetórias pessoais singulares e experiências particulares em sua relação com o mundo e, fundamentalmente, com as outras pessoas.
O processo de internalização, de construção de um plano intrapsicológico a partir de material interpsicológico, de relações sociais, é o processo, para Vygotsky, de formação da consciência: "A internalização não é um processo de cópia da realidade externa num plano interior já existente; é mais do que isso, um processo em cujo seio se desenvolve um plano interno da consciência", relata Wertsch, 1988, p.83.
Então, a consciência representaria assim, um salto qualitativo na filogênese, sendo o componente mais elevado na hierarquia das funções psicológicas humanas. Seria a própria essência da psique humana, constituída por uma inter-relação dinâmica, e sem transformação ao longo do desenvolvimento, entre intelecto e afeto, atividade no mundo e representação simbólica, controle dos próprios processos psicológicos, subjetividade e interação social.
A questão da formação da consciência e a questão da constituição da subjetividade a partir de situações de intersubjetividade nos remetem à questão da mediação simbólica e, consequentemente, à importância da linguagem no desenvolvimento psicológico do homem. Uma das idéias centrais, e mais difundidas, de Vygotsky, é a idéia de que os processos mentais superiores são processos mediados por sistemas simbólicos, sendo a linguagem o sistema simbólico básico de todos os grupos humanos. A linguagem fornece os conceitos e as formas de organização do real que constituem a mediação entre o sujeito e o objeto de conhecimento.
A questão do significado ocupa lugar central nas análises de Vygotsky sobre a linguagem. " O significado é componente essencial da palavra sendo, ao mesmo tempo, um ato de pensamento, na medida em que o significado de uma palavra já é, em si, uma generalização. Isto é, no significado da palavra é que o pensamento e a fala se unem em pensamento verbal. (...)"
"É no significado que se encontra a unidade das duas funções básicas da linguagem: o intercâmbio social e o pensamento generalizante. São os significados que vão propiciar a mediação simbólica entre o indivíduo e o mundo real, constituindo-se no ‘filtro’ através do qual o indivíduo é capaz de compreender o mundo e agir sobre ele". O significado de uma palavra representa um amálgama tão estreito do pensamento e da palavra, que fica difícil dizer se se trata de um fenômeno da fala ou de um fenômeno do pensamento. "Uma palavra sem significado é um som vazio; o significado, portanto, é um critério da palavra, seu componente indispensável (...). Mas, do ponto de vista da psicologia, o significado de cada palavra é uma generalização ou um conceito. E como generalizações e os conceitos são inegavelmente atos de pensamento, podemos considerar o significado como um fenômeno do pensamento". ( Vygotsky, 1989, p. 104); (Oliveira, 1993).
Embora a questão do significado pareça pertencer exclusivamente ao domínio do cognitivo, por referir-se ao processo de generalização e de organização conceitual e por ser tradicionalmente abordada, dentro da psicologia, por estudiosos dos processos cognitivos, na concepção de Vygotsky sobre o significado da palavra, encontra-se "uma clara conexão entre aspectos cognitivos e afetivos do funcionamento psicológico."
Portanto, acreditamos que a abordagem sócio-histórica nos remete à construção do afeto do indivíduo a partir da internalização de palavras. Baseando-nos em Vygotsky podemos salientar que a angústia gerada por palavras vindas ou advindas de familiares sanguíneos, a quebra de vínculos, dentre outras formas de separação que se observa nos idosos podem ser a causa de transtornos observados na Terceira Idade, como é a depressão, objeto desta pesquisa.
Metodologia:
O presente trabalho seguiu os caminhos de uma pesquisa de cunho qualitativo, cujo foco central foi a obtenção de dados, que nos permitiram tecer as possíveis representações sociais de grupos da chamada Terceira Idade. Para isso, utilizou-se de levantamento bibliográfico e entrevistas semi-estruturadas.
Primeiramente, realizamos uma revisão da bibliografia com relação ao tema da pesquisa nos últimos cinco anos, o que nos proporcionou um aprofundamento do estudo sobre a solidão na Terceira Idade.
Metodologicamente, o trabalho exigiu uma coleta de dados com entrevistas semi-estruturadas, relacionando questões que retrataram as representações que os pesquisadores construíram do problema levantado.
Como segundo passo, escolhemos 2 (dois) ambientes onde pudemos conversar com pessoas acima de 60 (sessenta) anos que expuseram seus sentimentos através de entrevista realizada.
Elaboramos um roteiro de entrevistas, semi-estruturadas, a serem realizadas com pessoas que freqüentam o Grupo de Terceira Idade da UNEC "Clube Juventude Acumulada", que funciona no Campus II e é dirigido pelo Professor Mestre Junior Martins e/ou moram no Lar dos Idosos "Monsenhor Rocha", no Bairro Santa Cruz, ambos em Caratinga/MG. O roteiro foi composto por três blocos de questões: o primeiro bloco caracterizou o entrevistado, o segundo bloco nos forneceu as ligações afetivas do entrevistado com familiares e amigos e o terceiro bloco procurou conhecer como estes entrevistados se divertem ou ocupam seu tempo livre.
Procedimentos Metodológicos:
- Entrevistas e Questionário semi-dirigido.
Fundamentação Analítica:
O problema do "comportamento fossilizado"
Nossa abordagem analítica fundamenta-se no fato de que, em psicologia, defrontamo-nos frequentemente com processos que esmaeceram ao longo do tempo, isto é, processos que passaram através de um estágio bastante longo do desenvolvimento histórico e tornaram-se fossilizados. Essas formas fossilizadas de comportamento são mais facilmente observadas nos, assim chamados, processos psicológicos automatizados ou mecanizados, os quais, dadas as suas origens remotas, estão agora sendo repetidos pela enésima vez e tornaram-se mecanizados. Eles perderam sua aparência original, e a sua aparência externa nada nos diz sobre a sua natureza interna. Seu caráter automático cria grandes dificuldades para a análise psicológica.
Os processos que tradicionalmente têm sido descritos como atenção voluntária e involuntária constituem um exemplo elementar que demonstra como processos essencialmente diferentes adquirem similaridades externas em conseqüência dessa automação. Do ponto de vista do desenvolvimento, esses dois processos diferem profundamente. Mas na psicologia experimental considera-se um fato, tal como formulou Titchener (1914), que a atenção voluntária, uma vez estabelecida, funciona exatamente como atenção involuntária. Segundo Titchener (1914), a atenção "secundária" transforma-se constantemente em atenção "primária". Uma vez tendo descrito e diferenciado os dois tipos de atenção, Titchener (1914), diz: "Existe, entretanto, um terceiro estágio no desenvolvimento da atenção, e ele nada mais é do que um retorno ao primeiro estágio." O último e mais alto estágio no desenvolvimento de qualquer processo pode demonstrar uma semelhança puramente fenotípica com os primeiros estágios ou estágios primários, e, se adotamos uma abordagem fenotípica, torna-se impossível distinguir as formas inferiores das formas superiores desse processo. A única maneira de estudar esse alto estágio no desenvolvimento da atenção é entendê-lo em todas as suas idiossincrasias e diferenças. Em resumo, precisamos compreender sua origem. Conseqüentemente, precisamos nos concentrar não no produto do desenvolvimento, mas no próprio processo de estabelecimento das formas superiores. Para isso, o pesquisador é frequentemente forçado a alterar o caráter automático, mecanizado e fossilizado das formas superiores de comportamento, fazendo-as retornar à sua origem através do experimento. Esse é o objetivo da análise dinâmica.
As funções rudimentares, inativas, permanecem não como remanescentes vivos da evolução biológica, mas como remanescentes do desenvolvimento histórico do comportamento. Conseqüentemente, o estudo das funções rudimentares deve ser o ponto de partida para o desenvolvimento de uma perspectiva histórica nos experimentos psicológicos. É aqui que o passado e o presente se fundem e o presente é visto à luz da história.
Em resumo, então, o objetivo e os fatores essenciais da análise psicológica são os seguintes: (1) Uma análise do processo em oposição a uma análise do objeto; (2) Uma análise que revela as relações dinâmicas ou causais, reais, em oposição à enumeração das características externas de um processo, isto é, uma análise explicativa e não descritiva; e (3)Uma análise do desenvolvimento que reconstrói todos os pontos e faz retornar à origem não será uma estrutura puramente psicológica, como a psicologia descritiva considera ser, nem a simples soma de processos elementares, como considera a psicologia associacionista, e sim uma forma qualitativamente nova que aparece no processo de desenvolvimento.
Resultados e Discussão
O primeiro indivíduo entrevistado, J. G. Silva, 80 anos, sexo feminino, relata que está na Instituição "Lar dos Idosos Monsenhor Rocha" há 16 anos. Devido às pressões na família, pediu ao filho que a internasse, para que fosse mais bem tratada, pois, é portadora de reumatismo desde os 37 anos, tem atrofia nas mãos e pés. Optou em vir para a instituição, pois, quando recém-casada, trabalhou na Vila Ozanan plantando roça, horta e ajudava as irmãs a cuidar das internas. Foi casada, teve 7 filhos. Destes, estão vivos uma filha e um filho. O filho é mais presente do que a filha, esta, alega que a mãe não foi uma mãe muito presente e por isso acredita que ela está bem onde está. J. G. S. diz que é feliz porque seu problema não a impede de exercer seu artesanato, pois faz panos de pratos, tapetes, toalhas "de marca", etc. Sabe o que é depressão, consegue relatar e diz que luta para que esse mal não a assole. Mas, percebe-se que no tom de voz é uma pessoa solitária. Tem hábitos noturnos de rezar de 3 a cinco terços por noite. Levanta às 5h30 da manhã e não dorme durante o dia. Sua diversão é fazer seus artesanatos e curtir um "forrozinho" de vez em quando (mesmo com atrofia em ambas as mãos). Seu tempo livre é para contar piadas e conversar com sua melhor amiga: Sabrina de 95 anos. Não existem pessoas que ela menos gosta. Gosta de todos, pois na idade em que está, procura não ter inimizade com ninguém. Só fez referências aos filhos quando perguntada no início da entrevista. Percebe-se que não se sente à vontade de falar deles. Encerra dizendo que está bem como está hoje. É tratada com carinho por todos e pensa que não precisa mais que isso.
O segundo entrevistado J. G. Souza, 54 anos, sexo masculino, está na instituição há 10 anos, e diz que não foi ele quem quis vir, foi sua madrasta e seu pai quem o trouxeram. Devido ao término do segundo casamento do pai e não tendo como ficar com o filho, o pai vendeu a casa, partiu o dinheiro com a madrasta e colocou J. G. Souza como interno desta instituição. Não foi casado, não teve filhos. Sente-se feliz na medida do possível. Acorda às 7h, faz faxina em sua casa, toma café e conversa com os outros internos, mas não gosta de muita conversa. Nunca ouviu falar em depressão, mas acha que tem. Não se diverte, não tem alegria, não sabe se tem tristeza. Vive. Relata que o momento mais triste é quando relembra a separação do "papai" e diz: "O papai não me quer na companhia dele"; "O papai fala que meu lugar é aqui mesmo onde estou". O sujeito J. G. Souza é muito apegado a fatos passados quando diz: "Já trabalhei muito na roça"; "Sei fazer comida para companheiros"; "minha comida é gostosa..." Percebe-se que quando reporta ao passado há muita melancolia em sua voz, seus gestos são compassados, comedidos, cansados, depressivos. Perguntado como ele estava se sentindo hoje disse: "Meu estômago queima muito de noite"; "mas me sinto bem" e "o que eu mais queria era morar com o papai, mas, ele não me quer".
O terceiro entrevistado A. P. M., 65 anos, sexo masculino, expõe que está na instituição há 15 anos. É solteiro, não teve filhos. Não faz nada durante o dia. Como a família teve que fazer uma partilha de bens, não tiveram o que fazer com ele e, como tem a "personalidade forte", acharam que tinha problemas mentais e o internaram na ASADOM (Associação de Amparo ao Doente Mental). Não está na instituição por vontade própria e não se conforma em ter que ficar nesse lugar. Deve obrigação a uma religiosa por tê-lo encontrado na ASADOM e ter percebido que o problema dele não era mental e sim físico. É paralítico devido a complicações que ele relata como "constipação nos ossos". Não tem sentimento relevante algum, não sabe o que é depressão, mas só sente "dor nas tripas". Não faz nada para se divertir e pensa que não é triste e nem tem solidão, porque canta na cama e nunca foi triste. Quando jovem era dançador e cantador de modinhas de pagode. Foi muito namorador e só namorava moças bonitas e filhas de alguém importante da cidade: filha de juiz e prefeito. A pessoa que menos gosta é um interno, "bebedor de cachaça", implicante, irritante, que ele não agüenta ver. Questionado como ele estava se sentindo hoje, disse que só sente dor no organismo, nas "tripas" e que assim que um parente de São Paulo vier visitá-lo, vai sair dessa instituição, pois não agüenta mais ficar preso neste lugar. Pensa que algumas pessoas da instituição proíbem seus parentes de vê-lo.
A quarta entrevistada é M. B. P., 45 anos, sexo feminino. Ela tem atrofia progressiva nos membros superiores e inferiores, foi abandonada pelos pais e criada por uma tia. Solteira, conta que já gostou muito de um rapaz com um problema semelhante ao seu, contudo não deu certo. Esteve na instituição há alguns anos, entretanto pediu para voltar para casa. Agora, como estava sentindo-se muito só - um peso para a família -, resolveu pedir para retornar à instituição, não por vontade própria e sim "por falta de opção". Chegou pela segunda vez, há 9 meses. Relata que decidiu voltar porque onde estava não podia contar com a ajuda da família em momentos que ela considera como imprescindíveis, tais como: escovar os dentes, pentear os cabelos, levá-la para fazer suas necessidades fisiológicas, etc. Uma assistente de enfermagem relata que o indivíduo entrevistado é muito exigente, cobra muito dos profissionais da instituição, faz "pirraça", defeca na própria roupa, parece que para chamar a atenção. A assistente diz: "Penso que a família preferiu que ela viesse para a instituição por não suportarem suas exigências, pois tem atrofia só nos membros superiores e inferiores, mas, na língua não". Pelo que se observa da entrevistada, parece tentar superar sua deficiência através de pensamentos positivos presentes e pensamentos de conquista futuros. Questionada como ela estava se sentido, ela diz que "muito feliz, graças a Deus. Em Deus me sinto muito feliz". Ocupa seu dia (e é o que mais gosta de fazer para se divertir também), fazendo tricô, crochê, vê televisão, joga "mini-game", lê, estuda, conversa com as velhinhas, dá palavra de ânimo para elas. E é assim que ela utiliza seu tempo livre. Cursou até o segundo grau completo e pretende fazer ENEM, para tentar um curso superior. Sabe o que é depressão e procura buscar em Deus, algo para que sua vida faça sentido. Não gosta de se sentir só, por isso busca sempre fazer suas orações que são suas maiores alegrias. Suas maiores tristezas é quando faz, às vezes, retorno ao seu passado. A pessoa de quem mais gosta é seu pai, se pudesse moraria com ele. Sua maior preocupação hoje, é sua irmã mais velha, que não se conforma com a morte da mãe e está depressiva. Gosta de todos da mesma forma, mas sente vontade de ficar só, às vezes, e detesta que mexam em suas coisas. Questionada como estava se sentindo hoje, M. B. P. diz que: "Bem. Estou me preparando para o ENEM, tenho esperança de ter um futuro promissor, passar em um concurso da Prefeitura ou do Estado, trabalhar e fazer minha faculdade, meu curso superior".
O quinto entrevistado é J. V. F., 58 anos, interno há 9 anos, sexo masculino. Não veio para a instituição por vontade própria, mas por motivo de doença. Era alcoólatra, morava com uma tia e após a morte dela perdeu a vontade de viver; por isso, passava noites e dias se embriagando. Deu erisipela na perna esquerda e estava só e abandonado, pois não tinha ninguém que se importasse com ele. Então apareceram alguns homens da Conferência dos Vicentinos e o trouxeram para a instituição, onde recebe abrigo e tratamento. Sente-se muito bem com os amigos que tem, não tem inimizades. Sua diversão é tocar violão e tomar conta da portaria da instituição. Levanta muito cedo, às vezes dorme bem e às vezes não. Suas maiores alegrias, tinha, quando sua mãe estava viva, agora não tem mais alegria. Mas, responde que momento triste, graças a Deus, hoje não tem. Percebe-se claramente a incoerência em suas palavras. Aproveita bem seu tempo livre. Conversa com amigos e amigas, sente-se livre e desimpedido. Nota-se muita tristeza em seus gestos, voz, uma amargura infinita, mas, tenta disfarçar. Usa de paradoxos para tentar ser autêntico. Sabe o que é depressão quando descreve, que "é um aperto no peito, uma vontade de chorar, uma angústia, vontade de ficar só, não se importar com nada", pensa que já teve princípio dessa "maldita doença". Hoje, procura viver bem com todos e se percebe que algum sentimento triste tenta aparecer, ele disse que dribla com alegria.
Conclusão:
Observa-se que o idoso isola-se em seu próprio mundo devido à sua afetividade que, reprimida, transforma-se em angústia. Daí acontece o embotamento de afeto e todas as suas conseqüências. Ponto essencial revelado nas entrevistas feitas foi quando os entrevistados não aceitam o distanciamento das figuras paternas, maternas e até mesmo fraternas. Os internos não admitem que estejam deprimidos ou sofram pela ausência, todavia em seus relatos deixam exprimir a tristeza profunda na psique pelo abandono, pela distância, pelo passado e até mesmo pela falta de perspectiva no futuro.
"O significado propriamente dito refere-se ao sistema de relações objetivas que se formou no processo de desenvolvimento da palavra, consistindo num núcleo relativamente estável de compreensão da palavra, compartilhado por todas as pessoas que a utilizam. O sentido, por sua vez, refere-se ao significado da palavra para cada indivíduo, composto por relações que dizem respeito ao contexto de uso da palavra e às vivências afetivas do indivíduo. Internos buscam fuga na religiosidade, e em formas de compensação para a solidão, a ausência, a angústia e suprir as carências biofísicas, bio-psico-emocionais e bio-sócio-históricas" (MARTINS JÚNIOR, Psicomotricidade, 2008).
Sugere-se viabilizar meios de ocupar os momentos de ócio dos internos lúcidos e capazes de decidirem buscando atividades alternativas para sua distração.tividade alternativas para sua distraç Cerca de 70% dos entrevistados, mesmo com limitações, procuram ser úteis, sabem o que fazer para não se deprimir e podem ajudar os demais a se enquadrarem nesta visão.
Através desta pesquisa pode-se comprovar que a afetividade do idoso se debilita com os anos, levando-o à perda dos vínculos familiares. O idoso tem consciência dessa perda de afeto e formação a posteriori da angústia. O caminho da solidão não o leva propriamente à depressão, mas outras situações alheias, como o luto pela perda de um ente querido, a posição deste interno anterior à internação (conforme eram suas atitudes com os seus leva à perda do afeto e à perda do vínculo familiar).
O sofrimento na velhice não é via de regra, pois 70% dos entrevistados levam, apesar da falta de afeto e aspectos depressivos, uma vida tranqüila, sem ociosidade, melhorando seus aspectos internos e suprindo assim, algumas carências internas.
Devido à escassez de tempo não foi possível aplicar a proposta de entrevista nos dois ambientes propostos que eram o Grupo da Terceira Idade da UNEC "Clube Juventude Acumulada", que funciona no Campus II e é dirigido pelo Professor Mestre Junior e internos que moram no Lar dos Idosos "Monsenhor Rocha", no Bairro Santa Cruz, ambos em Caratinga/MG. Ficando a segunda parte para posterior aplicação e/ou outro estudo comparativo.
Cronograma:
- Levantamento de literatura - Período: (1)
- Montagem do Projeto - Período: (2)
- Coleta de dados - Período: (3),(4),(5)
- Tratamento dos dados - Período: (4),(5),(6),(7)
- Elaboração do Relatório Final - Período: (6),(7),(8)
- Revisão do texto - Período: (9)
- Entrega do trabalho - Período: (10)
Bibliografia:
- Vygotsky, L.S., O Desenvolvimento dos Processos Psicológicos Superiores, Grupo de Desenvolvimento e Ritmos Biológicos – Departamento de Ciências Biomédicas – USP – São Paulo: Martins Fontes, 2003.
- La Taille, Yves de, 1951 – Piaget,Vygotsky, Wallon: teorias psicogneticas em dsicussão/ Yves de La Taille, Marta Kohl de Oliveira, Heloysa Dantas. – São Paulo: Summus, 1992.(p.75-82)
- MARTINS JÚNIOR, José Antônio. Psicomotricidade. Caratinga: Psicologia 5º Período/UNEC, 2008.
- Site http://www.ufrgs.br/bioetica/projeto.htm, acessado dia 04/04/2008.
- Site http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/met05.htm, acessado dia 04/04/2008.
- Site http://www.unec.edu.br, acessado dia 04/04/2008.
- Site http://www.msd-brazil.com/msdbrazil/patients/manual_Merck, acessado dia 04/04/2008.
- Site http://www.envelhecercomsaude.com.br, acessado dia 04/04/2008.
- Site http://www.comciencia.br/reportagens/envelhecimento, acessado dia 04/04/2008.
- Site http://www.scielo.br/pdf/rbme/v8n4/v8n4a01.pdf, acessado dia 04/04/2008.
- Site http://www.saudeemmovimento.com.br/conteudos, acessado dia 04/04/2008.
- Site http://pt.shvoong.com/social-sciences/1684958-teorias-envelhecimento/, acessado dia 04/04/2008.
- Site http://www.medicinageriatrica.com.br/2006/11/22/saude-geriatria/telomerase/, acessado dia 04/04/2008